Na sétima série, o menino que eu gostava começou a paquerar outra garota da minha turma. Ela naturalmente tinha um corpo esbelto, olhos azuis, cabelos loiros e macios, enquanto eu… ah, eu era apenas uma pobre menina de coração partido, que passou a chegar em casa todos os dias para chorar na frente de um reflexo distorcido no meu espelho.
Eu passei os anos seguintes da minha vida tentando reduzir o número de calorias no meu prato, evitando a todo custo consumir alimentos gordurosos, dizendo não aos churrascos em família e, claro, me odiando por não perder peso suficiente, enquanto todos ao meu redor se questionavam sobre onde eu chegaria com esse comportamento.
Essa não é uma história sobre como eu me tornei menor
Essa é uma história sobre como eu escolhi crescer e dar uma basta à minha luta contra o meu próprio corpo.
Quando a minha mãe começou a perceber que algo estava errado comigo, ela passou a me dizer coisas como, “é importante ser bonita por dentro”. Enquanto isso, eu pensava que não foi ela que cresceu assistindo a comerciais na televisão que vangloriam corpos sarados. Ela não precisou lidar com as provocações das garotas que te olham da cabeça aos pés, apontando as suas imperfeições; nem dos garotos que zombariam de qualquer uma que não fosse a mais bonita da classe.
No fundo, eu entendia a lógica da minha mãe, mas eu também precisava de um pouco mais de compaixão dela.
Se não bastasse, eu ainda tinha que ouvir coisas vindas de outras mulheres, como “nada é tão bom quanto sentir-se magra”. Então, eu passei a perceber como a magreza e os padrões de beleza ocidentais se tornaram a base da moeda social.
As nossas imagens são constantemente medidas e observadas
O nosso peso é posicionado como o número um, o que exige a nossa atenção coletiva e energia individual, enquanto os nossos corpos são vistos como a coisa mais valiosa que temos para oferecer ao mundo.
Eu corri nessa corrida por um longo tempo, como se uma medalha de ouro gigante me esperasse na linha de chegada, uma vez que me obtivesse a perfeição na imagem que eu desejava refletir.
Adivinha o que aconteceu quando eu finalmente consegui ter um corpo “magro”, quando passei a enxergar o número “ideal” na balança, ou quando eu parecia “bonita”, de acordo com as expectativas externas?
Nada — quero dizer, nada significativo aconteceu.
Eu não me tornei mais feliz, mais gentil ou mais calma. Eu não me tornei mais inteligente ou mais bem-sucedida apenas por ser magra.
Tudo o que eu consegui foi me deparar com outros estereótipos, como aquele que diz que mulheres atraentes não podem ser inteligentes ou engraçadas, ou os dois ao mesmo tempo.
A minha ênfase na luta com a minha imagem corporal não cessou neste momento. No entanto, após uma dose de terapia, eu comecei a me afastar das narrativas negativas.
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O que me fez entender o que é o corpo ideal
Quando eu me tornei mãe, essa experiência transformou a minha mentalidade sobre a aparência física. Eu abracei o papel do meu corpo de formar um novo ser humano. No entanto, eu ainda não estava isenta de críticas externas, nem de auto julgamentos.
Mulheres como eu queixam-se da própria aparência e acham falhas em si mesmas — se estão grávidas ou não.
Fui almoçar com uma amiga que admitiu que ela queria ser mãe, mas a que a gravidez era aterrorizante por causa da questão do peso. Parece que eu não conseguiria escapar da barragem de mensagens misturadas.
Se alguém me visse praticando exercícios, diria algo como “olhe para você, ainda continua ativa!”, como se estivessem tentando dizer que todo o meu esforço não passava de tempo perdido.
As mesmas pessoas perguntavam o que eu planejava fazer para recuperar o meu corpo depois de dar a luz, como se isso fosse a coisa mais importante depois da maternidade.
Eu recebia essas mensagens mistas de forma recorrente na minha vida, desde que eu era uma menina.
Eu observei tudo. Prestei muita atenção, até o ponto de ficar decepcionada.
Não só esse tipo de mensagens eram injustas, como confusas e perigosas.
Finalmente, eu decidi abrir mão disso. Eu não queria mais jogar o jogo.
Como eu venci a luta contra o ideal de corpo perfeito
Eu finalmente recusei a tentadora propagação de problemas de imagem corporal que eram oferecidos para mim. Em vez disso, eu decidi aceitar o meu corpo do jeito que ele é, com todas as suas imperfeições.
Essa aceitação está longe de ser fácil. Tenho dias bons e ruins, como todos as outras pessoas que lidam com seus próprios conflitos, mas agora eu sei que o amor próprio não aparece em um dia, em uma semana ou em um mês, nem mesmo em um ano. Isso leva um tempo indeterminado.
Eu tive que revisitar os momentos desconcertantes quando meus velhos problemas voltaram a aparecer e ter paciência e sabedoria para fazer uma pausa e dizer “espere. Isso é falso. Eu vou ficar bem.”
Quando eu senti que começava a comparar outra vez o meu corpo com o de alguém, eu passei a levar a minha mão ao meu coração e dizer gentilmente a mim mesma “pare com isso”.
Uma das coisas mais subversivas que eu fiz foi parar de esperar por alguém para me dizer que eu estou bem, da maneira que eu sou. Sou eu quem devo saber disso.
Isso me alivia da pressão de cuidar constantemente do meu peso e abre as portas para a minha liberdade, para a oportunidade de me concentrar em aspectos da minha vida que são mais valiosos e gratificantes do que a minha imagem.
Se você se esqueceu desse fato, você também precisa de um lembrete: você é forte; você é capaz de façanhas incríveis — seu coração bate; seus pulmões se enchem de ar; suas pernas te movem para lugares — o seu corpo é o seu aliado, e não um inimigo com quem você deve lutar.
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Você já teve que lidar com este tipo de conflito? Como você o superou? Comente logo abaixo!
Talvez você saiba, talvez não, mas apesar das pressões sobre os homens serem diferentes (provavelmente menos traumáticas), também sentimo-nos obrigados a encaixar em estereótipos…
O que precisamos, enquanto sociedade, é focar em aspectos como a saúde, porque no fim, isso sim é importante. Belo texto 😊
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Excelente ponto, Jauch!
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Beautiful!
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