Como lidar com a “síndrome pós-viagem”

Quando eu pedi demissão para viajar, eu ainda nem tinha um passaporte, nem uma mala e nem um bilhete de passagem. Tudo o que eu tinha era a certeza de que a minha primeira viagem internacional seria a oportunidade para “me encontrar” e nada me faria mais feliz na vida.

Que grande engano.

Um ano depois, eu estava de volta ao Brasil, com o coração partido, desempregada, sem nada de dinheiro no bolso, e amargamente irritada sobre o quanto a nossa cultura precisava evoluir. Eu estava experimentando o estado que ficou conhecido como “síndrome pós-viagem”.

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Eu tinha entrevistas de emprego pela frente, muitas histórias para contar e lembranças de paisagens e experiências incríveis que eu tive ao longo dos últimos 12 meses, mas nada disso melhorava o meu ânimo. Eu simplesmente desejava que pudesse permanecer na Itália comendo pizzas e tomando gellattos pelo resto dos meus dias.

Então eu recordei que, muito antes disso, aos 13 anos de idade, eu comecei a trabalhar e isso me fez “cair a ficha” de que eu estava em um país onde as pessoas que trabalham deveriam ter direito a férias.

Opa! Quer dizer, férias!?

Eu logo associei na minha mente a possibilidade de contar os dias para empacar as minhas coisas mais uma vez e me mandar para qualquer destino. Eu apenas desconsiderei o fato de que ainda faltavam, pelo menos, outros 365 dias para isso.

Desde então eu fiquei obcecada pelas minhas férias. Para mim, era a única razão para acordar cedo, suportar três horas no trânsito e engolir sapos quase todos os dias.

Ao fim de um longo dia, tudo o que eu sentia é que o fim daquele ano jamais iria chegar e com esse pensamento eu sentia um desconsolo que parecia tomar o lugar de toda aquela esperança de poder viajar outra vez.

No caminho para casa eu ia pensando: “Por que as cidades no Brasil são tão feias? Porque esse trânsito é um caos? Se eu morasse na Itália, poderia ir ao trabalho de bicicleta. Eu poderia viver e trabalhar em um hotel de Munique! Nos EUA, provavelmente eu ganharia mais dinheiro, ou poderia trabalhar como assistente de vôo e conhecer o mundo todo de uma vez. Ah, mas se eu vivesse na Tailândia seria tão mais barato”.

Quantas vezes, depois de passar alguns dias em uma cidade, não pensamos como seria incrível morar lá? Todos os lugares onde a gente passa apenas alguns dias parecem ser perfeitos. Isso acontece porque, geralmente, conhecemos o que as cidades têm de melhor e tudo parece funcionar com perfeição.

Mas isso está errado. Quer saber por que?

Nas férias, os horários são mais flexíveis

A melhor parte de se estar de férias é esquecer das nossas obrigações. Nos planejamos para que, naquele período, não seja preciso pensar em nada que não faça parte dos nossos tão esperados dias de folga.

É verdade que tem gente que demora alguns dias para se “desligar”, mas eu tomei apenas alguns minutos, porque quando eu fiz isso eu sabia que já nem tinha mais um trabalho.

Além disso, quem é que precisa acordar cedo quando está de férias, ou ir para a cama às 8:00 da noite? Claro, que se você for como eu, talvez faça isso e nem pense duas vezes, mas é muito mais provável que você não queira fazer o mesmo. Ainda mais quando está em uma cidade que nunca dorme, como Nova York.

Se não bastasse, cidades com um enorme fluxo de turistas, como Londres, vendem passagens de metrô mais baratas fora dos horários de pico.

Quando eu ainda vivia no Brasil, eu não tinha carro (e ainda não tenho). E por mais que as pessoas reclamem do transporte público, ele funciona tão bem no Brasil fora do horário de pico quanto em muitas cidades de países desenvolvidos que eu visitei.

Pelo menos em Joinville, a última cidade em que eu vivi no Brasil, os ônibus são limpos, saem a cada 10 minutos e chegam em menos tempo ao destino final, graças a eficiência dos corredores dedicados a eles.

E para quem reclama dos preços das passagens no Brasil, eu posso assegurar que é possível cruzar tanto uma cidade média como Joinville quanto capitais, como Curitiba e São Paulo, com menos de R$ 10 reais por dia.

Nas férias, não temos pressa

Quando eu estava retornando das minhas férias, o avião já havia aterrissado na pista do aeroporto e o comandante estava dando ordens “Senhores passageiros; mantenham-se presos ao cinto de segurança até que aeronave tenha parado totalmente”. Eu ainda estava usando o cinto, quando notei todos a minha volta levantando-se imediatamente.

Talvez, muitos deles estivessem viajando a trabalho e tivessem motivo para estarem apressados. Mas, o fato de eu permanecer sentada apenas prova que a minha mente estava em “modo férias” e eu não tinha nenhum interesse em me apressar.

É claro que ninguém quer perder tempo quando está viajando, mas é possível desfrutar das férias sem pressa. Isso nos possibilita olhar para detalhes que não vemos quando estamos correndo para chegar no trabalho ou em algum compromisso.

Quando estamos viajando, paramos para olhar um artista de rua, coisa que muita gente acha um saco quando eles estão atrapalhado o caminho para o trabalho. Achamos graça em simplesmente sentar em uma praça qualquer e observar as pessoas enquanto tomamos um sorvete ou assistimos ao pôr-do-sol.

Nas férias, somos quem queremos ser

Eu acho que o maior motivo de desejar que estivéssemos sempre viajando é que, além de conhecermos lugares e culturas que antes só tínhamos ouvido falar ou visto em filmes, também nos desligamos daquela realidade que nos obriga a fazer tantas coisas que não queremos ou que não gostamos.

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Quando estamos viajando, só fazemos o que temos vontade e isso nos traz aquele inigualável sentimento de liberdade.

Nas viagens nos desprendemos de tudo e nos conectamos a quem queremos ser. Não precisamos vestir aquele colarinho, ou o vestido até o joelho. Não precisamos usar um crachá e muito menos “bater o cartão”. Nas viagens de férias, o tempo é nosso e a vida parece ser mais bem aproveitada.

Mas, o que acontece é que as férias terminam, mais cedo ou mais tarde.

Se ainda faltarem outros 365 dias para chegarem as suas próximas férias, é bom mesmo você começar a aproveitar o que está ao seu redor. Porque a vida também passa. E há quem diga que ela é mais veloz do que o metrô em Santiago no Chile.

Quais sao as suas recomendações para lidar com a síndrome pós-viagem?

Um comentário sobre “Como lidar com a “síndrome pós-viagem”

  1. Pingback: Vida e trabalho na Índia - o que eu aprendi em 6 meses - Thaís Brülinger

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